quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Dylanesques

Dick Campbell - Sings Where Its At (1965)



" No estúdio A da Columbia Records, em 15 de julho de 1965, o cantor está tentando encontrar sua canção, dedilhando notas no piano. A sensação é de júbilo quando ele começa a cantar. Sua voz soa como se tivesse acabado de encolher três números depois de voltar da lavanderia. Ele arranca algumas notas aleatórias de sua gaita. O ritmo três por quatro é penoso, esmagado a já arriada melodia até ela se estatelar no chão. O organista força sua entrada na música, como um espectador de um acidente, decidido a fazer alguma coisa para ajudar, por mais inútil que isso seja. Dylan descobriu a música folk, a velha música country e os velhos blues – e descobriu que, em termos de canção e história, não havia uma linha mais multiforme riscada na nação que a traçada pela Highway 61. A história se fizera naquela estrada em tempos passados, e história se faria ali nos tempos futuros."
                                                                     Greil Marcus – no livro Like A Rolling Stone



Em 1965 Bob Dylan estava no auge de sua forma criativa. Foi em julho desse ano que assombrou os puristas empunhando uma guitarra elétrica no festival de Newport. Nesse mesmo ano gravou um par de álbuns seminais que iriam nortear irremediavelmente boa parte da produção musical nos anos seguintes.

Dick Campbell era um obscuro cantor folk que vagava pelos bares de Monroe e havia gravado alguns singles sem nenhum sucesso. Numa tentativa desesperada da gravadora Mercury de encontrar um novo Bob Dylan foi recrutado pelo produtor Lou Reizner para gravar um álbum que soasse parecido com os lançamentos recentes de Mr. Zimmerman. Parte dos músicos convocados para acompanhá-lo estava no palco com Dylan na mítica noite em Newport. O line up foi completado por integrantes do desconhecido grupo The Exceptions.

O resultado final pode ser interpretado como um exercício mal sucedido de oportunismo sem nenhum traço de autenticidade, e ainda revela Campbell como um decalque opaco a quilômetros de distância do modelo original. Em permanente luta com seus fantasmas algumas imperfeições fazem todo sentido, e ouvido com as devidas ressalvas o álbum tem seus méritos - um instrumental eficiente e por vezes afiadíssimo, com destaque para o órgão de Mark Naftalin, a harmônica de Paul Butterfield e a guitarra efusiva de Mike Bloomfield - que reproduz seus grandes momentos do álbum Highway 61 Revisited.

Campbell depois firmou parceria com Gary Usher e enveredou pelos caminhos mais doces do sunshine pop e na década seguinte se tornaria produtor de cinema abandonando definitivamente suas pretensões musicais.

Sings Where Its At, assim como muitos outros lançamentos de 1965, reverenciam a nova fase de Dylan e a improvável gênese do folk rock - pastiches ou legítimos herdeiros - dando palha para o surgimento eminente de novas paisagens sonoras. Os próximos capítulos seriam de cores saturadas, encharcadas de experimentalismo e ácido lisérgico, em seus anos mais inventivos e  revolucionários. 



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