Avalon-Mississippi,
1928. Sentado numa cadeira de balanço no alpendre de sua casa, um homem negro
refletido pelos esparsos raios de sol que escapam das copas das árvores dedilha
seu velho violão. As notas ecoam suaves com a brisa da tarde. Sua voz é doce e
emana uma ternura infinita. Um mergulho pleno de paz nas profundezas da alma
humana.
O homem que toca seu violão é John Smith Hurt, nascido no
vilarejo de Teoc - presumivelmente - no dia 08 de março de 1892, e que logo fixou
residência em Avalon onde passou quase toda a vida trabalhando nos campos da
região. Esse isolamento permitiu que desenvolvesse um estilo de musica essencialmente
rural - uma nova percepção de gama intensa da musica folk da qual o blues
representava só uma parte. Em seu repertório havia também spirituals, cantos de
trabalho e antigas baladas populares. Tudo tão natural que não existe outro
caminho senão autenticidade.
Por recomendação de seus vizinhos Willie Narmour e Shell Smith
que já eram artistas de relativo sucesso na região e davam seus primeiros
passos no âmbito fonográfico, conseguiu gravar algumas canções para a OKEH
Records. Foram duas sessões de gravação - em Memphis e Nova York - mas as
vendas ficaram muito abaixo do esperado. Logo retornou ao seu antigo estilo de
vida e esvaeceu-se na escuridão.
Ficou esquecido por longos 35 anos. Somente com a explosão
da musica folk no início da década de 1960 foi redescoberto pelo pesquisador
Tom Hoskins que o encontrou depois de ouvir a canção Avalon Blues e perceber
que a letra falava dessa localidade no Mississippi. Incapaz de localizar Avalon
nos mapas da época, Hoskins buscou em mapas antigos e acabou por encontrá-la em
uma atlas de 1878, perdida entre Greenwood e Grenada.
John Hurt continuava tocando a mesma música revelando que não
tinha mudado absolutamente nada em seu estilo nem perdido sua destreza. Jamais
perseguiu o sucesso, gostava mesmo era de tocar com os amigos e nas festas de
seu povoado, mas diante do interesse repentino dos jovens e da insistência de
Hopkins foi convencido a reiniciar sua carreira musical.
Nesse mesmo ano foi uma das atrações do Newport Folk Festival
onde foi apresentado como lenda viva para uma plateia intoxicada de emoção. Gravou
sessões para a Biblioteca do Congresso e alguns álbuns para a Vanguard Records.
Tocou em cafés, universidades e participou de diversos festivais viajando
incansavelmente por todo o país. Foram três anos consagradores e de intensa
atividade artística até seu falecimento em 2 de novembro de 1966.
Sua música é um refúgio de tranquilidade repleta de
sutilezas.
Como o entardecer em Avalon.
Tão notável ontem como hoje. Sublime, sempre.
Hi Estradas Flamejantes!
ResponderExcluirAll his recordings are absolutley timeless.
This is a very, very nice diverse blog!
Greetings
Thanks Jillem, you are welcome!
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