quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Mississippi John Hurt



Avalon-Mississippi, 1928. Sentado numa cadeira de balanço no alpendre de sua casa, um homem negro refletido pelos esparsos raios de sol que escapam das copas das árvores dedilha seu velho violão. As notas ecoam suaves com a brisa da tarde. Sua voz é doce e emana uma ternura infinita. Um mergulho pleno de paz nas profundezas da alma humana.

O homem que toca seu violão é John Smith Hurt, nascido no vilarejo de Teoc - presumivelmente - no dia  08 de março de 1892, e que logo fixou residência em Avalon onde passou quase toda a vida trabalhando nos campos da região. Esse isolamento permitiu que desenvolvesse um estilo de musica essencialmente rural - uma nova percepção de gama intensa da musica folk da qual o blues representava só uma parte. Em seu repertório havia também spirituals, cantos de trabalho e antigas baladas populares. Tudo tão natural que não existe outro caminho senão autenticidade.

Por recomendação de seus vizinhos Willie Narmour e Shell Smith que já eram artistas de relativo sucesso na região e davam seus primeiros passos no âmbito fonográfico, conseguiu gravar algumas canções para a OKEH Records. Foram duas sessões de gravação - em Memphis e Nova York - mas as vendas ficaram muito abaixo do esperado. Logo retornou ao seu antigo estilo de vida e esvaeceu-se na escuridão.

Ficou esquecido por longos 35 anos. Somente com a explosão da musica folk no início da década de 1960 foi redescoberto pelo pesquisador Tom Hoskins que o encontrou depois de ouvir a canção Avalon Blues e perceber que a letra falava dessa localidade no Mississippi. Incapaz de localizar Avalon nos mapas da época, Hoskins buscou em mapas antigos e acabou por encontrá-la em uma atlas de 1878, perdida entre Greenwood e Grenada.

John Hurt continuava tocando a mesma música revelando que não tinha mudado absolutamente nada em seu estilo nem perdido sua destreza. Jamais perseguiu o sucesso, gostava mesmo era de tocar com os amigos e nas festas de seu povoado, mas diante do interesse repentino dos jovens e da insistência de Hopkins foi convencido a reiniciar sua carreira musical.

Nesse mesmo ano foi uma das atrações do Newport Folk Festival onde foi apresentado como lenda viva para uma plateia intoxicada de emoção. Gravou sessões para a Biblioteca do Congresso e alguns álbuns para a Vanguard Records. Tocou em cafés, universidades e participou de diversos festivais viajando incansavelmente por todo o país. Foram três anos consagradores e de intensa atividade artística até seu falecimento em 2 de novembro de 1966.

Sua música é um refúgio de tranquilidade repleta de sutilezas. 
Como o entardecer em Avalon.
Tão notável ontem como hoje. Sublime, sempre.




2 comentários:

  1. Hi Estradas Flamejantes!

    All his recordings are absolutley timeless.

    This is a very, very nice diverse blog!

    Greetings

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